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Repórter Teen: A importância das relações interpessoais na escola

Especialista em Relações interpessoais na escola e construção da autonomia moral, Fernanda Issa de Barros Farhat, integrante do grupo GEPEM, Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral da UNESP/UNICAMP, conversa com os alunos do Colégio Xingu sobre suas experiências pessoais e profissionais. Fernanda já foi professora de Educação Infantil e coordenadora pedagógica, com ênfase em gestão escolar e análise de procedimentos educacionais que auxiliam na educação moral e orientação às famílias. Atualmente é formadora de professores.

Fernanda, gostaríamos de saber se você pode contar sua idade, se é casada e se tem filhos.

Oi, pessoal. Tudo bem? Primeiro preciso dizer que as perguntas que vocês fizeram me deixaram bastante emocionada, são perguntas muito sensíveis e me fizeram lembrar de coisas importantes da minha vida. Então, eu queria agradecer pela oportunidade que vocês estão me dando, não só em responder as perguntas, mas também por me fazerem lembrar de momentos que foram muito importantes para mim. Bom, vamos lá! Agora vou responder. Eu tenho 35 anos, sim, sou casada, o nome do meu marido é Guilherme e tenho uma filha, a Luisa.

Como você escolheu sua carreira? O que te inspirou e o que você estudou? Qual sua formação?

Essa pergunta de como eu escolhi a carreira é difícil responder, porque nunca imaginei ser professora. Sempre respondo que foi a profissão que me escolheu (risos). As coisas foram acontecendo e, quando menos percebi, já estava fazendo faculdade de pedagogia, que é minha formação. E o que me inspirou... Acho que foi pensar na educação como algo transformador. Transformar, um pouquinho que seja, a qualidade da educação, não só na parte da aprendizagem, do ponto de vista dos conteúdos gerais, que são essenciais, mas sobretudo, no que eu sempre acreditei como premissa da educação: o trabalho com relações interpessoais.

Você sofreu bullying quando era criança ou adolescente?

Sim, eu sofri bullying na escola, sofri bastante numa determinada época. Nessa época, eu não queria mais ir pra escola e, quando eu ia, falava que estava me sentindo mal para poder ir embora, me sentia muito sozinha, muito triste. As meninas com quem eu andava me deixavam excluída e escreviam coisas ruins sobre mim na porta do banheiro. Então, eu sofri bullying por um tempo e, talvez, por isso, eu tenha tanto amor por esse trabalho, não só para poder ajudar as crianças que sofrem, mas também as que praticam.

O que te motivou a entrar no grupo do GEPEM?

Bom, o que me motivou a entrar no GEPEM... Várias coisas me motivaram a entrar no GEPEM! Primeiro foi a admiração que eu tenho pelo trabalho que o grupo desenvolve, pelas pessoas que trabalham ali, pelas coordenadoras, a professora Telma Vinha e a professora Luciene Tognetta. Outra coisa que me motivou surgiu no comecinho da minha carreira, na época de estágio, quando eu comecei a trabalhar com educação. O que mais me preocupava na minha atuação enquanto professora era o trabalho voltado para as relações interpessoais, o cuidado que o professor tem que ter porque ele é uma autoridade importante na vida dos alunos, o cuidado para estabelecer limites, para construir um ambiente democrático, cuidado com a linguagem que esse professor utiliza pra que o aluno não se sinta humilhado, desrespeitado, com sua autoestima diminuída. Esse cuidado que o professor precisa ter era algo que me preocupava muito! E essa preocupação começou a surgir quando comecei a estagiar.

Acredito que o trabalho do professor, para além da construção da aprendizagem dos conteúdos gerais é, sobretudo, a formação de um ser humano ético!

Bom, nessa época eu já comecei a ler algumas coisas, a estudar um pouco. Um tempo depois, a escola em que eu trabalhava, a Escola da Vila, que, aliás, é uma escola pela qual tenho muita gratidão, me convidou a assumir uma sala. Quando eles me chamaram para ser professora desse grupo, na época, ele era considerado um grupo difícil, onde existiam muitos desafios, do ponto de vista dos limites, das relações... existiam muitos conflitos. Então, nesse momento, comecei a me debruçar mais fortemente nessas questões, a estudar mais intensamente. Eu sempre acreditei que o trabalho com as relações interpessoais é a premissa da Educação. É claro que os conteúdos gerais são extremamente importantes, mas, ressalto, que o trabalho com as relações interpessoais é base da Educação. Quando eu ganhei esse grupo, que foi um presente pra mim, eu comecei a me aprofundar em tais questões, comecei a fazer muitos cursos e fui conhecendo as pessoas do GEPEM. Depois que me formei, fui fazer a pós-graduação em Relações Interpessoais na Escola e a Construção da Autonomia Moral e me inscrevi para entrar no GEPEM. Foi aí que tudo começou, quando entrei no GEPEM 2.

Quando jovem, você chegou a ajudar algum colega na escola?

Sim, eu cheguei a ajudar sim! Sempre fui aquela aluna que ficava muito incomodada quando via que uma criança zoava a outra, fazia a outra se sentir mal. Então eu era sempre aquela aluna que defendia. Acho que como eu tinha sofrido bullying, sabia o quanto isso era ruim. Quando via essas situações acontecerem, ia ajudar quem estava triste, ia conversar com quem estava sozinho. Então sim, eu tentava ajudar sim.

Em que lugares você já trabalhou?

A primeira escola em que trabalhei foi a Escola da Vila, é uma escola pela qual tenho muita gratidão, pois foi a primeira. É a escola que me ensinou a ser professora. Eu aprendi muito com a Escola da Vila e com as pessoas que trabalhavam nela. É um lugar muito importante para mim. Depois fui para o Santo Américo, mas fiquei pouco tempo. Saí e fui para a Santi, que também é uma escola muito especial, trabalhei lá como professora e depois como coordenadora. Tenho muita gratidão por essas três escolas, que foram escolas que me abriram as portas, escolas que me ensinaram muitas coisas, por isso, tenho muita gratidão elas. Saí da escola para fazer a pesquisa, para poder ficar com o GEPEM. Esses foram os lugares em que eu trabalhei.

Qual é o seu maior desafio hoje?

Nossa, que difícil essa pergunta! Qual é o meu maior desafio? Na verdade, eu penso que são vários os desafios que a gente enfrenta, mas, talvez, acho que o maior deles é levar para as escolas por onde passo um pouquinho desse meu olhar, um pouquinho dessa minha crença de que a escola é um lugar privilegiado para trabalhar as questões da autonomia moral, para desenvolver valores, para construí-los! Não só levar, mas, talvez, até fortalecer ou intensificar. Enfim, a escola é um lugar potente para a construção de autonomia moral!

A partir do GEPEM, você resolveu algum caso ou probleminha na sua família?

Eu não sei se resolvi algum problema da minha família, mas tento passar para eles coisas que aprendo no GEPEM. Coisas que eu levo, não só para o meu trabalho, mas para a minha vida. Aprender a escutar as pessoas sem julgar, aprender a me colocar no lugar do outro, aprender a falar de um jeito que a gente reconheça o sentimento do outro, mas que também se coloque limites para as coisas que a gente aceita ou não! Então, com certeza, eu aprendi a ser uma pessoa que, pelo menos, tenta escutar sem julgar, alguém com um olhar mais empático e uma fala mais descritiva, que acolhe, que possibilite que as pessoas se sintam valorizadas e respeitadas. Tudo isso que estudo no GEPEM fui trazendo para minha vida, porque eu acredito em tudo isso! E penso que minha família vai aprendendo esse tantão de coisas junto comigo!

 Entrevista feita pelos alunos da Rede de Ajuda do Colégio Xingu

e mediada pela diretora Viviane Gonçales Passarini.