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Qual a melhor maneira para falar sobre política com crianças?

Texto: Miriam Gimenes

Política é assunto de criança? Essa questão, principalmente no último mês, com certeza tem passado pela cabeça de pais e educadores. Com o país polarizado, as discussões políticas ocorrem em qualquer lugar: no trabalho, nas redes sociais e, principalmente, em casa. Consecutivamente têm chegado também às salas de aula. E como proceder com os pequenos? Qual a melhor forma de trabalhar esta temática usando exemplos do cotidiano infantil? Para responder essas e outras perguntas, conversamos no Xingucast com Maria Carolina Cristianini, editora-chefe do Jornal Joca, publicação que permite que o público infantojuvenil tenha acesso a informações sobre o que está acontecendo no Brasil e no mundo, além de curiosidades, esportes e muitos outros assuntos do interesse dessa faixa etária. 

E sim, para ela, o processo eletivo - seja ele municipal, estadual ou nacional - é um tema que pode e deve ser discutido com os pequenos. “Temos de pensar que a política é um assunto que interfere na vida de todo mundo, da sociedade toda. E não nos tornamos cidadãos só quando adultos, com 18 anos. Somos a partir do momento que nascemos. A política é um assunto que interfere na vida de todos, inclusive das crianças.” Segundo a jornalista, o tema tem de ser tratado de acordo com a faixa etária e com o uso de situações que façam parte da rotina deles, para que desde cedo seja exercitada essa consciência.

Até porque, o debate sobre o processo eleitoral extrapolou o dia de votação, e as crianças não ficam imunes a isso. É corriqueira a cena, inclusive nas escolas, de os alunos defenderem um ou outro candidato, reproduzindo o que ouvem dos adultos, o que pode gerar conflitos. “O papel do adulto quando se vê diante desse tipo de situação é trazer para conversa a base sobre política e eleições. Ao invés de estimular o debate entre candidato x ou y, trazer os conceitos do tipo ‘o que é uma eleição’, ‘como surgiu’, ‘o que é democracia’, etc. É isso que ela precisa entender antes de chegar o momento, como cidadã, que terá de pesquisar sobre alguém e tomar a decisão de dar um voto”, afirma a jornalista.

A fim de ajudar neste processo, o jornal criou, em 2018, a primeira edição do Manual das Eleições do Joca (Manual das Eleições | Joca (jornaljoca.com.br)). É um material gratuito, disponível para download, em que é feita a explicação dos conceitos básicos. Trata-se de um conteúdo para criança ler sozinha, ou para o educador usar em sala de aula e pais em casa, e explica toda a história do pleito, desde a antiguidade, e as funções que ocupam aqueles que vencem um cargo eletivo, além do processo de votação, entre outras coisas. 

Para Maria Carolina, a curiosidade infantil sobre o tema - inclusive ela relata que uma das matérias mais lidas no site do Joca foi sobre a lacração de urnas eletrônicas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) - é um ensejo e tanto para trabalhar de maneira profunda temas como democracia, a importância de um voto consciente e o respeito às diferenças. 

É o momento, inclusive, de explicar isso em atividades práticas, realizando até mesmo uma ‘eleição’ em sala de aula. A jornalista cita que em 2018, na ocasião do primeiro manual, a reportagem acompanhou algumas escolas que exercitaram os preceitos políticos deste conteúdo e propuseram que os alunos montassem chapas de candidatos e cada grupo elaborasse suas plataformas eleitorais. Perceberam que eles se movimentaram para criarem as propostas - fizeram até cartazes -, promoveram o debate de maneira respeitosa, ouvindo os oponentes e esperando o momento de defenderem suas ideias. E, principalmente, respeitaram as decisões do voto. “Vejo como uma excelente oportunidade para trabalhar esse assunto de maneira mais didática.”

Outro exemplo citado pela jornalista foi nas eleições municipais de 2020, em que os alunos das escolas de São Paulo participaram da iniciativa chamada E aí, Prefeitura?, em que eles discutiram o que esperavam do prefeito da cidade em temas como mobilidade, saúde, segurança, educação, entre outros. “É uma outra forma de olhar para a política como uma coisa mais próxima do nosso dia a dia, como ela interfere no que vemos na rua, principalmente o que não está funcionando.” Propostas feitas foram enviadas ao jornal, que repassou ao chefe do Executivo. “E depois estimulamos que eles acompanhassem o candidato, para ver se estavam sendo cumpridos os pedidos. Ficar de olho no mandato também é muito importante. Não se pode eleger alguém e abandonar.” Tudo faz parte do processo de voto.

Maria Carolina sugere, aos pais e educadores, que também seja trabalhada a educação midiática, para o combate às fake news. Para tanto, indica o livro Como Não Ser Enganado pelas Fake News, escrito por Flávia Aidar e Januária Cristina Alves e publicado pela Editora Moderna. Trata-se de um manual para identificar as informações falsas, difundidas, principalmente, por WhatsApp e redes sociais. “Ele pode ser consultado sempre e serve para as crianças, junto com os adultos, se munirem contra a desinformação desse mundo digital. Além disso, ajuda na conscientização da importância da educação midiática também”. Abastecer os jovens de informações desde cedo é plantar a semente de um futuro melhor. 

Dica: Quem tiver qualquer dúvida sobre política ou outro assunto, é  só mandar e-mail para joca@magiadeler.com.br ou sugerir no ‘fale com a redação’ do site www.jornaljoca.com.br

Veja também: Política é assunto de Criança? XinguCast #10 (YouTube) - Ouça em: Spotify | Anchor