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Palestra ministrada no Colégio Xingu abordou diversos aspectos da relação entre pais e filhos

Por Miriam Gimenes

‘Levante a mão quem já mandou uma mensagem por WhatsApp para o filho dentro da própria casa’. Foi com este desafio que o professor e palestrante Rafael Monteiro deu início à palestra realizada no Colégio Xingu recentemente com pais de alunos do 6º ao 9º ano, intitulada ‘Os Filhos do Quarto’. O encontro, que emocionou a todos os presentes, teve por objetivo discutir os diversos aspectos da relação familiar e de que forma a tecnologia pode tanto ajudar como também prejudicar a rotina familiar em casa.

Foi comparando a infância dos pais com a de seus filhos que Rafael conseguiu traçar o paralelo das mudanças que vivemos atualmente na sociedade.

“Trazendo para o presente, mostramos o quanto a tecnologia pode influenciar neste relacionamento e quais são as formas de trazer o filho para mais perto. É importante sempre conversar com as crianças sobre permitir o acesso a aparelhos tecnológicos, mas sempre com equilíbrio. Tudo que existe em excesso atrapalha”, analisa o especialista.

Entre os perigos que essa realidade pode trazer, Rafael mostra a postagem de uma pré-adolescente nas redes sociais: ‘Mais um dia, aff…’ e, na imagem usada para reflexão, os dizeres: ‘Um corpo vivo e uma alma morta’. “Era nítido que ela estava pedindo socorro. A postagem teve 129 compartilhamentos, mostrando que os adolescentes se identificam e compartilham esses sentimentos, o que é perigosíssimo. A taxa de suicídios no Brasil aumentou entre os jovens, enquanto no mundo inteiro está diminuindo.” Rafael atribui esse tipo de situação a um somatório de causas, entre elas a ausência da família no dia a dia da criança, o fato de o jovem estar passando por uma ebulição de hormônios, a falta de diálogo, etc.

O que se vê, por muitas vezes, acrescenta o palestrante, é um contorcionismo dos pais para dar o melhor para as crianças na questão material e, o emocional, fica deixado em segundo plano. “Por isso é importante priorizar os momentos em família, fazer as refeições juntos, perguntar como foi o dia da criança e contar o seu também. É sempre importante mostrar que se importa com os problemas deles para que se sintam importantes e amparados em qualquer situação e, nunca, trocar a ausência por bens materiais. O tempo juntos, ainda que seja pouco, tem de ser totalmente para eles.”

Esta análise faz todo sentido. Antes da palestra, em sala de aula, a professora de Convivência Ética Elisa Lopes Laso Taboada, fez duas perguntas aos alunos: a primeira era o que havia de positivo na relação com os pais e, a segunda, o que eles achavam que podia ser melhorado. “Foi muito interessante porque fomos bem transparentes dizendo aos alunos que esse papel chegaria aos pais e que eles poderiam colocar somente o que fosse confortável. Os alunos gostaram muito de saber que os pais teriam essa possibilidade e percebi o envolvimento pleno de todos eles”, analisa a professora. Segundo ela, houve até a preocupação com a forma que escreveriam, para que não magoassem as famílias.

“Antes conversei com eles para mostrar que nós, pais, tentamos acertar o tempo todo, mas somos humanos e essa relação é uma construção não só para os filhos, mas também para os pais. Muitos se emocionaram neste momento”, revela Elisa, que percebeu que os jovens gostam de falar sobre a família. “Vi o quanto eles precisam disso e o quanto valorizam. Alguns até disseram que os pais não poderiam vir à palestra e questionaram como esse papel chegaria até eles. Ficaram nitidamente mexidos com essa oportunidade.”

Entre os principais incômodos que eles relataram está o uso de celular dentro de casa, o que, segundo eles, atrapalha o diálogo; disseram que gostam de ficar no quarto não porque estão tristes, mas que precisam de um momento só para eles; alguns disseram que querem que os pais deixem eles voarem e que confiem no trabalho que fizeram com a educação que lhes foi dada; que não os comparem com os outros colegas e, por fim, que o diálogo seja feito de forma amena, sem agressividade. “O legal é que alguns reconheceram que precisavam melhorar, ficar mais perto dos pais, dar mais atenção. Foi um momento de autoanálise também. O que me chamou atenção é que muitos falaram que gostariam de brincar mais com os pais, que sentem falta desse momento de diversão. Mas todos apontaram gostar da relação de amor, respeito, carinho e cumplicidade que têm em casa, foi muito bonito.”

Não é preciso nem dizer que durante a dinâmica final da palestra, quando os pais receberam esses bilhetes, foi emocionante. “Isso me faz pensar no quanto é importante a escola proporcionar esse momento para os pais. Eles estão com sede de falar dos filhos, das angústias, da fase que passam, do desenvolvimento deles. É uma troca de experiências também, enriquecedor para todos”, finaliza Elisa.

Entre as soluções apontadas por Rafael, estão:

Diálogo;
Exemplo;
Sem brigas no lar;
Não negociar o inegociável;
Seja presente na escola;
Converse sobre o uso de eletrônicos;
Exponha seus sentimentos;
Critique os atos, não o jovem;
Estabeleça horários;
Favoreça a formação cultural;
Dê tarefas domésticas;
Seja firme e coerente;
Elogie o bom comportamento;
Aproveite o tempo juntos.