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Mês da Mulher - Especial "Mulheres do Xingu": Ivanilda

Texto: Miriam Gimenes

Março é um mês especial. É um importante período para discutir o papel da mulher na sociedade - cujo dia internacional é comemorado no dia 8 -, de suas lutas, das desigualdades ainda enfrentadas e as conquistas alcançadas até então. É um mês de reflexão, conscientização e homenagens, portanto. E como forma de lembrar aquelas que são importantes para a história do colégio, ao longo dos seus quase 49 anos de existência, inaugura-se hoje a série especial As Mulheres do Xingu, em que toda comunidade escolar terá a oportunidade de conhecer melhor algumas de suas colaboradoras, que representam as 57 que compõem toda a equipe.

“Tenho muito orgulho de trabalhar em uma escola”

Jeremoabo é uma cidade da Bahia que tem cerca de 41,5 mil habitantes. Foi de lá que, aos 6 anos de idade, Ivanilda Vieira de Jesus, hoje com 54 anos, saiu com a mãe e os outros irmãos - durante toda a vida teve 11 e hoje só 8 estão vivos - para ‘tentar a vida’ em São Paulo. Não foi um período fácil. “Minha mãe tinha de trabalhar para sustentar todo mundo e não tinha com quem nos deixar. Praticamente não tive infância. Estudei só até a terceira série, porque não tive oportunidade. Tinha de ajudar a cuidar dos meus irmãos mais novos”, lembra Ivanilda.
Isso não quer dizer, no entanto, que Dinha, como é chamada carinhosamente por todos no Colégio Xingu, não goste do ambiente escolar. É dele que tira seu sustento, já que atua como auxiliar de limpeza, onde fez amigos e se sente muito respeitada, inclusive como mulher. “Durante a minha vida trabalhei em empresa, em casa de família e há 12 anos estou no Xingu, onde, para mim, é como se fosse minha casa. Me dou bem com todo mundo lá, gosto de todos. Tenho muito orgulho de trabalhar em uma escola” Ela lembra que chegou à escola por indicação de uma cunhada e logo ganhou o apelido, que nem lembra como nasceu. “Começaram a me chamar de Dinha não sei porque. Acredito que muitos nem sabem que chamo Ivanilda”, diz, aos risos.
Com o início da pandemia do novo coronavírus, ela teve de se afastar do ofício por ser do grupo de risco. No entanto, há pouco voltou ao trabalho, tão importante quanto o dos professores em uma escola. “Nós trabalhamos hoje em cinco auxiliares, e começamos o trabalho logo cedo, para garantir a segurança de todos. Seguimos todos os protocolos de limpeza para evitar o vírus. Estamos fazendo tudo do jeito certo, do jeito que tem de ser”, garante.
Dinha, que já morou no bairro Sacadura Cabral, em Santo André, no Ipiranga, em São Paulo, e agora reside na Vila São Pedro, em São Bernardo, fez de São Paulo o seu lugar. Casou-se cedo, teve um filho e depois de 16 anos de relacionamento, se separou. Hoje mora com seu atual marido e guarda no peito uma saudade: o filho, de 34 anos, há dois anos e dois meses mudou-se para Lisboa, em Portugal, onde trabalha como ajudante, junto com a mulher. “É saudade demais. Meu maior sonho hoje é vê-lo pessoalmente, mas não há previsão por causa da pandemia. As nossas conversas são apenas pela tela do celular. E quero muito ter um netinho também.Tomara que isso tudo passe logo." Vai passar.