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Importância da Convivência Ética na escola é reafirmada em encontro no Colégio Xingu

Por Miriam Gimenes

Trabalhar com as crianças vai além do ato de seguir ao pé da letra a definição do verbo educar. É investir no aprendizado, no aspecto cognitivo e psicológico, mas também ter como preocupação com o tipo de adulto que se quer formar. Foi com o intuito de mostrar como a escola e os pais podem trabalhar juntos neste mesmo objetivo que a professora e formadora Fernanda Issa, que faz parte do Gepem (Grupo de Estudos de Pesquisa em Educação Moral) – Unicamp/Unesp, idealizador do projeto de Convivência Ética nas Escolas, esteve no Colégio Xingu para um encontro com os responsáveis pelos alunos.

Fernanda visita mensalmente a escola para auxiliar na implementação das Redes de Ajuda que é composta por alunos de 5º a 9º ano e consiste, basicamente, no acolhimento das crianças pelos próprios colegas de classe e está em vigência no Xingu desde o ano passado. Ela ajuda na formação dos integrantes das Equipes de Ajuda – eleitos pelos próprios alunos em assembleia – e também ministra formação mensal com os profissionais da escola, dando um novo olhar para as práticas diárias, para assim conseguirem identificar casos de bullying em sala de aula ou em outros espaços da escola, valorizar os sentimentos das crianças e ajudá-las na resolução dos conflitos.

Entre as considerações que a profissional fez para os pais durante o encontro, estão a maneira como o projeto foi desenvolvido no Colégio desde o início, em qual estágio ele está, a melhor maneira que os alunos conseguem assimilar os ensinamentos no ambiente escolar e em casa (teoria aliada a exemplos), os jeitos mais eficazes de resolver os conflitos e a importância dos pais agirem em sintonia com a escola de forma que o resultado seja mais eficaz. “É importante que as famílias estejam junto com a escola porque quanto mais conseguimos conciliar as nossas ações e estabelecermos uma parceria, melhor para as crianças. Afinal de contas, os pais também precisam de orientação e suporte, porque eles não têm a formação que nós (educadores) temos. Eles precisam conhecer mais sobre este projeto tão importante para melhorar a convivência escolar”, explica.

Entre os exemplos citados por Fernanda durante o encontro, foi o de um menino, aluno de uma das escolas que trabalhou, que praticava bullying com os colegas. Geralmente, quem pratica bullying gosta de ser o centro das atenções e, partindo dessa questão, uma das maneiras usadas para fazer com que ele mudasse de conduta foi encontrar nele um talento, que no caso era tocar violão, e convidá-lo para se apresentar na Festa Junina do colégio. Após o ‘show’ e admiração dos colegas, nunca mais teve coragem de se indispor com nenhum deles. “O que precisamos observar é que tanto a vítima quanto o autor de bullying precisam de ajuda. Tendo isso como norte, o processo é mais efetivo”, ressalta. E acrescentou: “As pessoas não são, elas estão. Todo mundo tem a chance de ser melhor. Ninguém está perdido.”

O projeto das Redes de Ajuda, acrescenta, precisa ser uma constante na escola, assim, poderemos presenciar seus resultados ainda nos primeiros meses. “Ele é um trabalho para além. Algumas pesquisas dizem que conseguimos ver mudanças, do ponto de vista do clima escolar, a partir do segundo ano de implementação. Mas, é claro que algumas pequenas mudanças já vão acontecendo logo do começo.” Só o fato de as crianças criarem uma visão empática para se candidatarem a participar das Equipes de Ajuda já muda a conduta delas e de quem as cerca dentro da sala de aula.

Karina Kalynytschenko Gonçalves, que é mãe de três alunos do Colégio Xingu – Yasmin, 7º ano, Kauê, 4º ano e Emily, Infantil 1 – e participou do encontro com a Fernanda, diz que há tempos notou que a escola tem uma maneira diferente de resolver os conflitos. “Sempre achei muito interessante essa forma que a escola lida com isso. Nunca teve a prática de repreender o aluno, mas sim usar aquilo como uma oportunidade de aprendizado. Quando recebi, no ano passado, o comunicado sobre a Rede de Ajuda fiquei muito feliz e esse encontro esclareceu ainda mais como isso é feito. Foi possível ver que existem profissionais capacitados por trás, que dão todo suporte para as crianças ajudarem os amigos, até nos casos mais sérios. Foi muito esclarecedor.

Para que possamos ajudar nesse processo, é preciso estar próximo dos filhos, conversar, orientar e observar, porque muitas vezes as crianças não nos contam o que acontece. E sermos exemplos nas nossas atitudes, porque não adianta falar e fazer o contrário. Eles se espelham em nós”, ressalta.

Quem também esteve presente foi Carla Andrade, que tem dois filhos no Colégio – Laura, que está no 2º ano, e Tiago, no 8º ano, além do Lucas, que já se formou. “Tomei conhecimento do projeto no ano passado quando foi implantado na escola, por meio das redes sociais, das fotos e do ClassApp. Achei muito legal, porque vem de encontro com a filosofia da escola, que é muito humanizada. Achei a iniciativa da palestra muito esclarecedora”, ressalta. O uso de exemplos por parte da Fernanda, que mostrou, em estatísticas, que pouquíssimos conflitos chegam até o professor, a maioria fica entre os alunos, reafirmou, para ela, a importância das Redes de Ajuda. “Tive uma outra visão do que é a convivência ética e ela me fez enxergar que é possível construir valores na escola com a ajuda da família. Porque se não houver isso não haverá resultado. Além dos nossos filhos, nós também aprendemos muito na escola com todas essas ações, sem contar os ensinamentos que eles trazem para casa e até, algumas vezes, nos repreendem. A escola está de parabéns.”