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Imigrante haitiano que é funcionário do Colégio Xingu, conta a sua história para os alunos do 4º ano

Texto: Miriam Gimenes

O que leva uma pessoa a sair de seu país de origem e buscar oportunidade em território até então estranho? Qual a receptividade do povo brasileiro? Foi difícil se adaptar? O que quer para o futuro? Essas e outras perguntas foram ouvidas pelo haitiano Yves Oribin, 33 anos, que desde janeiro faz parte do quadro de funcionários do Colégio Xingu e participou de uma conversa com os alunos do 4º ano, ocasião em que contou sua história.
“Para mim foi um momento bem prazeroso (estar em sala de aula) porque respondi algumas perguntas que eu nem esperava ouvir. Vi que as crianças são bem desenvolvidas, porque fizeram perguntas muito boas, que me ajudaram não só a pensar como também a me exprimir, falar sobre a minha história. Consegui entender melhor como é ser imigrante”, analisa Yves, que trabalha como inspetor no colégio. Segundo ele, desde sua chegada, um ou outro já haviam perguntado de onde ele vem. “Criança é bem curiosa e até pelo meu sotaque (a língua-mãe dele é francês) eles perceberam logo que não sou daqui.”
Yves estudou Ciências da Educação no Haiti, onde trabalhava como educador, e nunca havia pensado em mudar de país. Sua vontade, na verdade, era fazer um mestrado, oportunidade que apareceu em 2014. “Tive uma proposta para fazer mestrado nos Estados Unidos, França ou Canadá, por uma bolsa de estudos oferecida para a universidade que estudei, que era pública. Mas esse convite virou uma confusão e acabei perdendo a bolsa”, explica.
Ainda que a oportunidade não tenha dado certo, Yves não desistiu de desenvolver seu conhecimento. Ligou para um amigo que morava no Brasil, que o explicou que aqui havia oportunidade para estudos, principalmente para pós-graduação. Então se planejou e arrumou as malas. Uma vez em solo brasileiro, passou dois dias em Belo Horizonte, alguns meses em Santa Catarina, Estado que um primo mora, e chegou em São Paulo em 2016, de onde só saiu para visitar os pais, no Haiti. Cursou pós-graduação na USCS (Universidade Municipal de São Caetano), de Psicologia Organizacional, e agora tenta viabilizar ainda o seu tão sonhado mestrado.
Yves diz que sentiu em deixar os amigos, os irmãos, os pais, mas faz parte de sua escolha. “A gente tem que aprender a se acomodar e se adaptar com as situações. Eles têm a vida deles e a minha vida depende de mim.” A sua lista de metas inclui não só o mestrado, mas diversas outras coisas. “Estou há quatro anos aqui e isso (não ter conseguido o mestrado ainda) me deixa preocupado. Mas não posso dizer que o Brasil é difícil, têm coisas que preciso desenvolver e tudo isso depende só de mim”, analisa.
E qual é seu sonho? “Meu sonho é de ultrapassar onde estou hoje e isso não quer dizer a escola, mas minha posição social e intelectual também.” Para custear seus estudos, além do Colégio Xingu, Yves dá aula particular de inglês e francês.