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É seguro retomar as aulas presenciais?

Texto: Miriam Gimenes

A dúvida de quem tem filhos em idade escolar é a mesma: é seguro retomar as aulas presenciais? De modo a ajudar aos pais a pensar nesta questão, o Colégio Xingu promoveu live com o médico pediatra Renato Chamelian, que falou, além dessa questão central, sobre a imunidade infantil, os tipos de testes existentes, previsão de vacina e de que maneira a escola deve proceder frente ao retorno das aulas.

(Assista a gravação da live clicando aqui)

Segundo o médico, discussão, tem de ser feita por toda comunidade escolar. “Dizer que a escola vai conseguir um bloqueio (do vírus), uma triagem perfeita, não vai. Não vai porque nem os testes são 100% e grande parte das crianças são assintomáticas. Nem eu sei se meu filho está doente, como a escola saberá?”, questiona. Fazer conversa individualizada entre as famílias, é a melhor opção neste momento. “Tenho casos em que os pais estão sozinhos aqui (em São Paulo) e a empresa não teve a consciência de alongar o home office. Eles precisam voltar ao trabalho e não têm com quem deixar o filho. Nessas situações o retorno é inevitável. Depende da situação de cada família e entendo que a escola tenha famílias com realidades diferentes”, avalia.

Mas esse retorno à sala de aula, ainda que se cumpra todos os protocolos, tem um preço. “Se voltar à escola não vai poder visitar os avós, não pode ficar com eles nem meio período, porque o risco é muito grande.” O especialista diz que, no entanto, nos próximos meses vamos ter de aprender a conviver minimamente bem com esse risco, porque o coronavírus não vai sumir a curto prazo. “Mesmo que a vacina venha, seja eficiente, é uma doença que agrediu o mundo. Estamos falando da necessidade de alguns bilhões de doses de vacina para o mundo inteiro. E não adianta querer romancear a vida. Não vejo a possibilidade de vacinar todas as nossas crianças ou todos os grupos de risco em curtíssimo espaço de tempo”, alerta o pediatra.

O Colégio Xingu, no início de julho, fez uma pesquisa com os responsáveis pelos 400 alunos para saber qual seria a opção do retorno presencial. Foram recebidas 373 respostas, que apontaram que 68% optam pela continuidade do ensino remoto este ano e 32% querem o retorno das aulas presenciais. A pesquisa também mostrou que 13% dos alunos são do grupo de risco, 69% têm contato com pessoas do grupo de risco e 31% dos alunos não têm nenhum contato com pessoas do grupo de risco.

“As famílias precisam estar muito bem orientadas dessa situação. A transparência nesse momento é uma questão fundamental para que se façam escolhas conscientes das vantagens e risco dessas opções”, afirma Chamelian. Segundo ele, as crianças carregam maior carga do vírus porque o sistema imunológico delas é mais fraco, o que não permite eliminá-los com maior eficiência.

E, ainda que a doença não atinja de forma grave a saúde dos pequenos, o profissional diz que é preciso prestar atenção também na questão psicológica. As crianças perderam muito, lembra o profissional. “Tenho visto no consultório muitas alterações comportamentais neste sentido e por isso, sugiro aos pais manter o nível de observação de seus filhos. Vamos ter muitas crianças que vão precisar de terapia psicológica e outras, pode ser em porcentagem menor, necessitarão de ajuda psiquiátrica. O impacto emocional da pandemia é grande.” Por isso, sugere que os pais fiquem atentos e tentem, ainda que por pouco tempo e seguindo os protocolos de saúde, fazer passeios ao ar livre, ir a um parque, procurar não mantê-los apenas trancados. Qualquer respiro, nestes tempos, será proveitoso.