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É possível educar nossos filhos sem castigos e punições?

Miriam Gimenes

TERCEIRO ENCONTRO DA ESCOLA DE FAMÍLIAS TRATA SOBRE EDUCAÇÃO EM CASO DE QUEBRA DE REGRAS POR PARTE DOS FILHOS

Todo lugar é regido por regras. Seja no ambiente escolar, na comunidade ou em casa, tudo tem de ter seus limites para o bem viver. E, desde cedo, as crianças têm de saber quais são os limites impostos em cada um desses ambientes. Mas e quando elas transgridem as determinações? Esquecem do que os responsáveis ou professores ensinam e fazem completamente o contrário? 

Não é uma situação fácil de lidar, já que educar exige paciência e repetição. Mas no terceiro encontro da Escola de Famílias, promovido pelo Colégio Xingu, a mestre em educação escolar e integrante do Gepem (Grupo de Estudos de Pesquisa em Educação Moral), Natália Pupin, tratou tema Sobre Punições e Castigos aos Nossos Filhos: Como Posso Educar Para o Bom Agir e a Liberdade com Responsabilidade?, e deu algumas diretrizes para que os ensinamentos sejam perpetuados, não apenas respeitados, tanto dentro da escola como em qualquer outro lugar da vivência infantil.  

"Precisamos ter em mente que as regras existem para regular a nossa existência. O que fazemos quando ela é quebrada? É preciso mostrar que tem de ter a reparação e reiterar a noção de justiça, nosso valor maior. Mostrar que tudo sempre envolve o eu e o outro. Quando uma regra é quebrada, a justiça foi quebrada também e isso invariavelmente afeta outra pessoa”, explica.

É normal, dentro do ambiente familiar, quando uma criança é repreendida por ter feito algo errado, não se importar com as consequências. Tem certeza do amor dos pais ou responsáveis, não é um deslize que vai perdê-los. E podem até desafiar, principalmente quando ficam mais velhos. Mas quando a repreensão vem de alguém de fora, inclusive no ambiente escolar, a conversa pode surtir um efeito maior. Mas não deve ser assim.

Quando o filho desobedece os pais é preciso mostrar que isso os deixou descontentes. “Se a gente fala sobre algo que está sentindo, isso gera um sentimento, algo foi feito que deixou os pais incomodados. Faz com que a criança olhe para os responsáveis como valor, porque mostra aquilo que feriu os sentimentos”, ressalta Natália. Crianças menores costumam ser mais egocêntricas, mas as maiores entendem perfeitamente o conceito de cooperação e empatia. 

Tipos de justiça

Natália explica que existem quatro tipos de justiça: a imanente (que já nasce com o bebê), retributiva (consequências de uma infração); a distributiva e igualitária (igualdade de direitos e deveres, dos 8 aos 11 anos), equidade e reciprocidade (oferecer condição para que os filhos respeitem a necessidade de um indivíduo, como o irmão, por exemplo). A última é a mais eficaz para educar de forma eficiente as crianças. 

Não dar a oportunidade de reparar o erro impede que a criança alcance a autonomia moral, de agir pelos princípios, esconde os valores morais que estão por trás das regras. “A criança tem de agir não por ação do medo da punição, mas por entender que existe uma regra necessária. Por isso a importância desses limites serem construídos coletivamente, tanto na escola quanto em casa. Quando eles fazem parte da construção entendem o poder dessa regra.” 

E isso funciona como? Sujou, limpe. Quebrou, conserte. Não fez a tarefa, se explique com a professora. Toda ação gera a reação e é preciso refletir sobre cada opção. Apenas punir, deixar sem videogame, sem ir na casa do amigo, não vai fazer a criança pensar sobre o que fez de errado e seguir a regra em uma próxima oportunidade. Só vai mantê-la com medo da punição, que é uma solução momentânea. É preciso pensar sobre essa obediência a longo prazo. 

Entre as sugestões da especialista, está a exclusão temporária da criança de um grupo quando faz algo de errado, privar a criança de algo que tenha estragado e mostrar imediatamente a consequência lógica da ação. “E, principalmente, encorajá-la a fazer a reparação. Censurar sem punição, dar opções para a criança para que assim aconteça o desenvolvimento da responsabilidade”, explica Natalia. 

Também é preciso ter consonância com o que se faz na escola. “A nossa ação precisa ser vista além dos muros da escola, porque muitas delas estão sendo combatidas no ambiente escolar e em casa precisa ter um olhar cuidadoso, para que nosso trabalho enquanto pais e escola se articule”, finaliza a especialista.