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Direito das mulheres e a luta contra desigualdade

Por: Miriam Gimenes

Não é fácil ser mulher em uma sociedade machista. Cada uma das conquistas realizadas nos últimos anos é fruto de muito trabalho e conscientização de grupos que visam a evolução da sociedade, em todos os sentidos. É por isso que é importante, desde cedo, educar as crianças para que as conquistas femininas continuem em uma crescente e não sejam abaladas, de forma alguma, por falta de informação ou preconceitos.

De olho nessa necessidade, o Colégio Xingu convidou Julie Damame e Vinicius Novak, fundadores do Projeto Impacto Mulher, que já fizeram palestra na escola sobre o assunto para os alunos do 9º ano em 2018, para falarem sobre o direito feminino na sociedade. A iniciativa deles nasceu de um trabalho de conclusão de curso e tem por objetivo dar suporte jurídico e psicológico para mulheres que passam por situação de violência, além de levar informações - inclusive para as crianças - para que situações parecidas sejam sanadas ou não ocorram mais.

E, durante a pandemia do coronavírus, em razão do isolamento social, os casos de violência aumentaram muito. Pesquisa recente apontou que a cada minuto oito mulheres sofrem violência no Brasil. “As razões são inúmeras, são complexas, estruturais, sociológicas. A gente pode mencionar questões onde desde 1603 as relações são legitimadas com a violência, defesa da honra do homem, frases disseminadas por construções de estereótipos, ‘briga de marido e mulher ninguém mete a colher’. Há uma tolerância social para violência contra a mulher. E na pandemia, além de estar em contato durante 24 horas com seu agressor, tem a questão de diferentes condições ou classes sociais, por isso, os atritos são recorrentes. O marido consegue controlar o celular, o computador, daí as brigas ficam mais constantes”, analisa a especialista. 

Para que isso acabe, é preciso disseminar a informação e desconstruir, o quanto antes, qualquer sinal de machismo. “Além das palestras e consultorias, nós divulgamos informações sobre direito da mulher diariamente nas redes sociais. Temos um grupo de profissionais especializados no tema para auxiliarmos as vítimas de violência. Com a rede de apoio conseguimos impactar ainda mais as mulheres, para conseguirem entender seus direitos”, explica Julie. Já para as escolas, de maneira lúdica, portanto, o assunto é levado e discutido entre os alunos. “Mostramos o ciclo da violência por meio de filmes, vídeos do YouTube, músicas, propaganda, tudo de maneira de fácil entendimento”, acrescenta. 

E tem surtido efeito. Em um dos casos, Julie lembra que uma menina a chamou no fim de uma apresentação e disse que, conforme os relatos dados na palestra, percebeu que a mãe estava sofrendo violência doméstica. “Depois de um mês ela nos mandou mensagem dizendo que a mãe havia se separado e assim rompemos o ciclo da violência doméstica. Neste momento vi duas mulheres renascerem, porque apesar da menina não sofrer a violência diretamente, convivia nesta estrutura”, ressalta Julie.

Vinícius lembra que a conversa nas escolas serve também para que tanto os alunos quanto alunas entendam como o papel da mulher mudou na sociedade e que o empoderamento visto hoje foi sinônimo de muita luta. “Em uma palestra perguntamos o que elas queriam ser quando crescessem. Uma disse que queria ser astronauta, a outra médica, etc. E aí dissemos que poucas avós delas poderiam também descrever o que sonhavam, porque muitas não aprendiam matemática ou português na escola. Aprendiam apenas a costurar. É interessante ver a reação dos alunos quando a gente traz a situação para a realidade deles.”

O chamado machismo tóxico, aquele que diz que menino não chora, só pode jogar bola e que não deve respeitar as mulheres, tem de ser o quanto antes eliminados da educação infantil. “Se a gente quer uma sociedade livre de machismos, a gente precisa educar também os meninos para que eles compreendam quanto a desigualdade de gênero está na nossa vida e o quanto isso afeta não só as meninas, mas eles também. Masculinidade tóxica está relacionado a isso, à concepção do gênero que é formada a partir de estereótipos historicamente atribuídos aos homens. Se esse menino se interessa por artes, por que não deixar que ele faça o que quer? E o mesmo vale para as meninas. Só assim vamos mitigar o machismo”, finaliza Vinícius. Quanto antes o trabalho de conscientização for feito, melhor será, portanto, o resultado. A sociedade agradece. 

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