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Denise Guilherme, idealizadora de ‘A Taba”, fala sobre o impacto da leitura na formação das crianças

Texto: Miriam Gimenes

 

A escritora e editora norte-americana Jane Yolen, especialista em publicação infantil, diz que “a leitura é uma doença textualmente transmitida, normalmente contraída na infância”. Nada mais propício para resumir assunto exposto há pouco no Colégio Xingu pela mestre em Educação pela PUC-SP, Denise Guilherme, que há seis anos criou A Taba, empresa especializada em curadoria de livros infantis e juvenis. Para plateia formada por pais e educadores, a especialista falou sobre o impacto da leitura na formação das crianças, tanto no âmbito escolar, quanto em casa.

Em quase duas horas de conversa, Denise discorreu sobre as vantagens de realizar a leitura em família - ressaltou a importância de ‘dar o exemplo’ -, o papel da escola na formação dos leitores, com série de atividades, e de que maneira o mundo acelerado pode atrapalhar essa prática. Para ela, esta discussão é muito importante nos dias de hoje, inclusive, porque estudos feitos em relação ao perfil leitor do brasileiro ainda decepcionam. À exemplo, está a última pesquisa Retratos da Leitura, feita pelo Instituto Pró-Livro, que apontou que no País se lê, em média, 2,5 livros ao ano. As pessoas preferem ‘se informar’ nas redes sociais.

“É importante a gente falar sobre o impacto da leitura porque talvez nunca tenha se lido tanto e tão superficialmente. E isso não está fazendo bem para a gente. Parece que a leitura em profundidade está datada, mas ela é um remédio necessário para o nosso tempo tão agitado. Quando a gente pensa nas crianças isso tem diversos reflexos: resulta em déficit de atenção, em crianças agitadas. Elas estão assim porque a nossa mente está agitada. A gente precisa trazer um tempo de presença”, observa. Por isso, ressalta, é tão importante, tanto na escola quanto em casa, fazer a leitura com os pequenos e discutir sobre o que foi aprendido. O incentivo é a melhor arma para lidar com essa realidade, fato feito, segundo ela, com maestria pelas educadoras do Colégio Xingu.

“Trabalhei muitos anos em projetos de leitura e eu sempre vi que os pais, de um modo geral, sabem que ler é importante, eles querem incentivar a leitura, mas eles mesmos não são leitores. Porque somos um país com uma história de leitura muito recente. Então fiquei pensando no que poderia ser feito para mudar isso. De que maneira eu poderia criar um serviço que ajudaria esse pai a escolher um livro, porque ele chega na livraria e nem sempre sabe o que comprar. Pensei em oferecer algo que ajudasse também esse pai a ressignificar a história dele lendo para o filho dele e se formando leitor junto”, explica. E assim nasceu A Taba, formada por um grupo independente de especialistas que mensalmente faz curadoria de livros e os oferece pelo Clube de Leitores.

A maioria das assinaturas, segundo ela, são de educadores - o Colégio Xingu recebe sempre os livros indicados pela empresa - e houve um aumento de 1000% de adeptos da empresa desde sua criação. Por isso, ela fala com propriedade de causa de como deve ser feita a escolha de uma publicação. “Tem de ser um livro com um texto bacana e ilustração também. Os pais têm de ler e ver se gostam do livro, o que ele provoca, se faz pensar. É preciso entender que vão errar muito durante a escolha, até descobrir qual é bacana. Tem de experimentar muito e também seguir recomendação.” Segundo ela, no site de A Taba (www.ataba.com.br) sempre são divulgados lançamentos que passaram pela triagem do time de especialistas. “A gente só recomenda o que é bom”, garante.

A leitura, para ela, é a peça-chave para formar um adulto independente, que saiba falar, se posicionar e discutir sobre qualquer tipo de assunto. “As vantagens da literatura são incontáveis, mas ela traz, principalmente, o desenvolvimento da imaginação, da criatividade, vocabulário, capacidade discursiva e argumentação. Se a escola e os pais querem formar um adulto competente, tem de trabalhar intensamente com os livros”, finaliza.