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Como usar linguagem assertiva e escuta empática com nossos filhos?

Miriam Gimenes

QUARTO ENCONTRO DA ‘ESCOLA DE FAMÍLIAS’ ORIENTA COMO USAR LINGUAGEM ASSERTIVA E A ESCUTA EMPÁTICA

O dia a dia na educação de uma criança é cheio de aprendizados, de ambos os lados. Muitas vezes nós, adultos, tomamos decisões erradas, sempre querendo acertar. Mas, com algumas mudanças de atitudes, principalmente no modo de conversarmos e escutamos os pequenos, os resultados podem ser mais efetivos e não ferem, de forma alguma, aqueles que tanto amamos. E foi com esse intuito que ocorreu o quarto encontro da Escola de Famílias, promovido pelo Colégio Xingu, cujo tema foi Como usar uma linguagem assertiva com nossos filhos e filhas? E quando as palavras não bastam?, norteado pela formadora Fernanda Issa, integrante do Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral da Unicamp). 

A especialista alertou aos responsáveis que as nossas construções de valores, desde cedo, são impactadas diretamente pela linguagem. É necessário todo cuidado, principalmente no momento de repreender sobre algo que causou desagrado. "As crianças e adolescentes pensam diferente da gente, mas se sentem como nós. Dependendo de como falamos eles ficam com raiva, medo, angústia, podem se sentir humilhados, desrespeitados. Quando falamos de linguagem estamos tratando também de sentimentos”, explica. 

Por isso é importante saber as formas de interlocução com os filhos e no que elas resultam. Há aquela focada na submissão, que demonstra a relação hierárquica e geralmente é focada nas expressões ‘quem manda aqui sou eu’, ‘quantas vezes vou ter de repetir para você me respeitar’ ou ‘você me deixa louco (a)’, atitudes que geralmente vêm seguidas de castigo. “Nestes casos, a gente acaba deixando de ser autoridade e beirando o autoritarismo, quando faz o uso exacerbado do poder. E eu puno, castigo, ameaço, ofendo, suborno. Não funciona, principalmente na construção de valores”, alerta a especialista, 

Essa linguagem que julga, emite juízo de valor - ‘bagunceiro’, ‘não obedece’ - que vai reforçar uma regulação que está fora dele, que ‘vem de cima’. Há pouca reflexão sobre os valores que estão em questão e isso dificulta a aprendizagem, gerando sentimentos negativos como culpa, ansiedade, medo, raiva. As intervenções têm de estar pautadas no processo de reparação do ato e na restauração dessa relação, não na punição.

E como isso funciona na prática? Ao invés de dizer ‘seu quarto é uma bagunça’, prefira ‘estou vendo que seu quarto está desarrumado e acredito que você é capaz de mudar isso’. “A linguagem descritiva mostra os fatos sem o uso de rótulos. Quando falamos sobre linguagem temos de tratar da situação, nunca de pessoas”. ressalta Fernanda.  Uma vez que os nossos sentimentos é o que me move, a linguagem, acrescenta a especialista, deve caminhar para o coração para que depois eu consiga alcançar a mente. “Quando falamos isso é como um outro veículo de acolhimento, assim como a linguagem descritiva. É sobre o que a gente vê, descreve a situação. Sem emitir juízo de valor, a tendência da cooperação é muito maior. Porque quando me sinto atacado vou canalizar minha energia para tentar me defender. Quando é descrito, consigo me conectar a essa situação, porque não está falando de mim. 

Enquanto adultos é preciso estabelecer limites, disso ninguém discorda. Mas, para isso, deve-se rever as regras e valores pelos quais não se pode abrir mão e chamar os filhos para a elaboração desses ‘tratados familiares’, além de pensar juntos as ações que ajudarão a regular a convivência familiar. 

ESCUTA

Outro ponto destacado por Fernanda é pensar que tipo de escuta que está sendo oferecida para os filhos. “Ela (escuta) é outro veículo importante, porque acolhe. Favorece um movimento de conexão entre as pessoas. Mas não é qualquer tipo, é uma que constrói sentidos, reconhece as nossas emoções, sentimentos, vai revelando as nossas necessidades. Se alguém reconhece o que eu sinto, me sinto valorizado.” Escutar seu filho de forma respeitosa - e isso não quer dizer que esteja concordando com o que está sendo dito - o fará se sentir valorizado e até a mudar as atitudes.  “É um jogo de tentar reconhecer a necessidade que o outro gostaria que fosse cuidada e o que fazer para estabelecer esse limite sem ferir essas necessidades.”

Dicas para criar uma escuta mais empática:  

1. Ter atenção:  depois que meu filho fala, tento parafrasear o que ele diz, organizar as ideias. A paráfrase é como se fosse um eco dessa conversa. 

2. Apreciação: reconhecer o que está por detrás da fala, quais são as necessidades que ele gostaria que tivessem sido cuidadas.

3. Encorajamento: fazer com que os filhos desenvolvam a coragem, para ultrapassar o que não acha que dá conta de fazer. Com a escuta cuidadosa crio situações para que tenha suas escolhas, vou transmitindo o sentimento de confiança, que é extremamente importante, inclusive para autoestima e autorrespeito. 

4. Respeito: é um sentimento pautado por outros dois. Desde bebês existe a junção de amor e medo. As crianças têm medo de perder o amor dos pais, dos professores e dos amigos. Conforme vão crescendo e os adultos vão sendo desmistificados, o adolescente não tem mais medo de perder o amor dos pais. Eles deixam de ter um respeito unilateral e clamam para que seja mútuo. A relação de admiração está relacionada ao sentimento de confiança.

5. Escutar de fato: evitar falar da gente, antecipar o que o outro vai dizer, minimizar ou desqualificar os sentimentos, evitar distrações. 

6. Reconhecer a necessidade: entender quais são e tentar perceber o que está por detrás das ações. O que está atrás do grito? O que ele (a) quer me dizer?