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Como aproximar seu filho de maneira firme e amorosa?

Miriam Gimenes

Educar uma criança não é uma tarefa fácil. Por diversas vezes deslizes são cometidos, tanto pelos adultos quanto pelos pequenos e adolescentes. O que é preciso ter em mente é que para que o resultado se torne efetivo é necessário passar por um processo sólido e eficaz. A fim de ajudar a construir esse 'caminho' foi realizado o segundo encontro da Escola de Famílias, promovido pelo Colégio Xingu, em que se discutiu, essencialmente, a melhor forma de se aproximar dos filhos de maneira firme e amorosa. 

Quem liderou a conversa foi Fernanda Issa, integrante do Gepem (Grupo de Estudos de Pesquisa em Educação Moral), que ministra esses encontros desde o ano passado. De maneira acolhedora, em que os responsáveis e a especialista trocaram experiências, os temas tratados foram em torno de como colocar limites no dia a dia, mas sem usar de métodos que já mostraram não ser eficazes, principalmente do ponto de vista psicológico. 

‘É preciso pensarmos nos limites que damos aos nossos filhos e os desafios que eles nos causam. Temos de entender que uma comunicação não violenta, uma fala respeitosa, nos aproxima mais deles. Uma bronca dada em público, por exemplo, não traz o aprendizado. Se eu faço isso na frente dos outros, sem querer, posso trazer o sentimento de humilhação à criança e ao adolescente. A bronca tem de ser no ambiente privado”, alerta Fernanda. 

Deve-se ter em mente que os responsáveis têm uma influência muito grande na construção dessas personalidades e por isso, desde cedo, é preciso deixar claro que algumas coisas são negociáveis e outras não, para uma sólida construção de valores. “Tem algumas coisas que a gente pode negociar. Aquilo que não fere nenhum princípio, valor universal, ou seja, o respeito, a solidariedade, a justiça, a dignidade do ser humano, a gente pode negociar. Mas quando fere, aí quem sustenta os princípios somos nós, os adultos”, diz Fernanda.

E ela dá um exemplo: o filho quer sair de casa sem blusa, mas está muito frio. “Saúde é inegociável. Mas você dá a opção: ou você põe a blusa e a gente sai ou desistimos e ficamos em casa. Assim os princípios estão assegurados. Quando oferecemos escolhas estamos dando oportunidade para que se conscientizem das consequências das suas ações e se responsabilizem pelas escolhas.”


LEVA TEMPO

Fernanda ressalta que a construção de conhecimento e mudança do comportamento não acontece da noite para o dia. É necessário que as crianças vivenciem os valores rotineiramente para que construam os próprios. “Quando a gente estabelece um limite, vamos olhar para isso como um processo, um meio, não como um fim”. E não adianta, para isso, usar artifícios como punir, ameaçar, subordinar, dar prêmios. “Essas ações podem resolver o  comportamento, mas a pergunta que fica é: resolve para quem e por que? Para as mães que precisam do sossego. Mas quando penso em construção de valor, essa mera obediência precisa ser questionada.”

São estratégias que funcionam quando as crianças são menores, mas na adolescência não rendem mais. Ao invés do medo de perder o amor dos pais, é o momento em que não querem decair aos olhos de quem admiram. “Por isso que a relação de admiração e confiança precisa ser base da relação. Quando eu puno ou suborno, a relação de admiração enfraquece’, alerta a especialista. 

Deve-se também reconhecer os sentimentos do seu filho, ter uma escuta ativa - isso não quer dizer que tenha de concordar - e deixar claro o que é certo ou errado. A partir do momento que têm os seus próprios sentimentos reconhecidos, fica mais fácil respeitar o dos outros.  “Um limite bem estabelecido está livre de sermões, lições de moral. Ele precisa ser breve e firme. Quanto mais eu falo, me desgasto, grito, mais distância eu gero. Precisa de firmeza e brevidade na fala. A linguagem descritiva não é permissiva, ele não vai fazer o que quiser, porque nós adultos é que sustentamos os princípios.”


LINGUAGEM

A forma como a conversa é conduzida também influencia totalmente não só no resultado como também na marca que você deixa no seu filho, que pode trazer consequências tanto para o bem quanto para o mal. Frases do tipo: ‘você é muito bagunceiro’, ‘não ouve nada do que eu falo’, ‘já cansei de falar com você’, imprime rótulos que são difíceis de mudar. Fuja deles. 

Isso não quer dizer que tenha de encher de elogios a criança: ‘você é muito inteligente’, ‘é o mais esperto’, etc. Estes tipos de frase, segundo Fernanda, causam insegurança nos pequenos, que querem sempre suprir uma expectativa colocada neles, gerando ansiedade e insegurança. Ao invés de fazer isso, explique em detalhes o que te deixou satisfeito: ‘estou vendo que tem se esforçado nos estudos, por isso a nota boa’ ou ‘vi que deixou o quarto organizado, estou muito orgulhosa (o)’. São atitudes - ou degraus - que fazem toda diferença na construção da trajetória da criança. O próximo encontro está marcado para o dia 19 de abril, das 18h30 às 20h.