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Colégio Xingu implementa projeto de práticas antirracistas por meio da literatura

Texto: Miriam Gimenes

“É urgente que a escola ofereça às crianças e adolescentes livros e histórias dos povos afro-brasileiros sem necessitar de um período específico para isso"

A luta contra o racismo é um tema que tem sido bastante discutido há alguns anos, principalmente nos meios de comunicação e redes sociais. Nada mais atual. E o Colégio Xingu, que sempre trabalhou o respeito e a tolerância entre seus alunos e colaboradores, em todas as esferas, tem feito o seu papel também com esta temática, inclusive com a implementação do projeto de práticas antirracistas por meio da literatura.
A vice-diretora e coordenadora da Educação Infantil e 1º ano, Fernanda Sanches, explica que o projeto faz parte de um plano institucional de práticas antirracistas que engloba diversas ações entre os colaboradores e alunos da escola. “Ele surgiu de um projeto que nós iniciamos ano passado com os alunos, que era da Unesco. Todos os anos nos dão um tema e o do ano passado era a ‘década internacional dos afrodescendentes’. Tivemos de nos debruçar a estudar sobre o assunto enquanto equipe para poder ter as ações com as crianças”, lembra.
E neste processo foi notado entre os alunos da Educação Infantil que, quando eram disponibilizados livros para que escolhessem, os de protagonistas negros eram os últimos a serem notados. “Isso chamou atenção e começamos a perceber que tinha uma demanda maior que este projeto (da Unesco).” Para tanto, o corpo docente e demais colaboradores começaram a ser preparados. “Os professores também tinham dúvidas em relação a termos de conotação racista, como tratar isso com os alunos. Com esse vocabulário nosso, às vezes não percebemos que usamos expressões racistas ainda no cotidiano. Nos debruçamos e fizemos uma formação de práticas antirracistas e montamos um plano institucional, implementado desde a portaria, passando pela equipe de apoio até os docentes.”
Qualquer tipo de preconceito, acrescenta Fernanda, é intolerável. “Hoje buscamos essas práticas como valor da escola. Não é mais aceitável que a gente tenha uma pessoa que use expressões racistas, olhe com estranheza ou destrate alguém de forma discriminatória. Às vezes temos algo tão inserido dentro de nós, transmitido de geração para geração, e precisamos quebrar este ciclo.”
Na biblioteca houve uma inserção maior de livros de origem afrodescendente. A coordenadora de Língua Portuguesa e professora de biblioteca da escola, Mileny Beccaria Vasconcellos, diz que a medida foi mais do que necessária. “É urgente que a escola ofereça às crianças e adolescentes livros e histórias dos povos afro-brasileiros sem necessitar de um período específico para isso. Algo que se torne uma prática curricular, que permeie o ano todo e não apenas ações tomadas em datas comemorativas. É necessário colocar para circular obras robustas e de boa qualidade literária no acervo, livros que considerem a cultura negra, sua riqueza e profundidade sem estereótipos ou inferiorização. E é isso que a equipe do colégio tem feito há cerca de dois anos.”
No acervo, acrescenta, foram incluídas obras de autores negros brasileiros e estrangeiros, e também tiveram novas aquisições para os livros usados em sala de aula. “Ainda falta muito, mas seguiremos estudando para dar conta de anos e anos de racismo estrutural presente até em nossas bibliotecas”, finaliza.