Blog

Alunos do Colégio Xingu participam de Encontro Anual das Equipes de Ajuda na Unicamp

Texto: Miriam Gimenes

O Centro de Convenções da Unicamp foi palco de um evento muito importante: o V Encontro Anual de Equipes de Ajuda de todo Brasil. Depois de dois anos sem a troca de experiências de forma presencial, em razão da pandemia do coronavírus, cerca de 250 estudantes, de 16 escolas de educação básica do país se uniram - outras também participaram, mas de modo virtual - para expor as ações de acolhimento de sucesso que foram realizadas entre os pares.  E os alunos que integram a equipe de ajuda do Colégio Xingu estiveram presentes e mostraram as atividades realizadas este ano, principalmente na questão antirracista. 

Todos estavam animados. Cada equipe que teve oportunidade de participar do evento ganhou suas ‘capas de heróis’, devidamente usadas, e no palco fizeram a troca de brasões - uma tradição entre as equipes de ajuda. Também assistiram à apresentação do grupo de hip-hop Matéria Rima, de Diadema, e ouviram dos organizadores a importância de que cada vez mais esse projeto ganhe adeptos. “Passamos pelo período de pandemia, que foi muito difícil para o mundo todo. Os meninos e meninas podem estar menos entusiasmados, mas é preciso retomar essa força. São aos poucos, com pequenos grupos, que conseguimos fazer coisas significantes”, analisou o professor da Universidade de Valladolid, na Espanha, doutor em psicologia e criador mundial das Equipes de Ajuda, José Maria Avilés. 

Encantado com a troca de experiência entre os alunos, para os quais também fez palestra, o especialista no assunto apontou os resultados efetivos da experiência que criou e que cada vez tem ganhado mais adeptos não só no Brasil como também no mundo - em breve chega na Lituânia. “Os resultados são efetivos porque com as equipes de ajuda se supõe que os que sofrem têm um ponto de apoio, uma possibilidade de ajuda. É muito importante esse recurso para que todas as pessoas que estão sendo discriminadas, estejam tristes e não encontrem seu lugar, alcancem uma mão estendida para agarrar, para sair de onde estão, dos territórios de tristeza, de angústia e de ansiedade.” Avilés ressalta o papel da escola em trabalhar neste sentido. “É um posicionamento político, que diz muito sobre a instituição. As escolas que têm isso ultrapassaram a fronteira, buscam coisas além.”  

A professora coordenadora do Gepem (Grupo de Estudos de Pesquisa em Educação Moral) Luciene Tognetta, que lidera o grupo que implementa as equipes de ajuda no país desde 2015 - já são mais de 30 escolas adeptas -, não escondeu a satisfação em realizar o encontro entre as equipes, principalmente depois de passarmos por um período tão caótico. “Dois anos de afastamento, de medo, angústias e mesmo que eles sejam mais fortes, preparados para atuarem na ajuda aos companheiros, também sofreram, ficaram angustiados por não saberem como ajudar, inclusive em um momento tão difícil. E isso se estende para o cotidiano da escola. Atuar num contexto como esses exige deles uma preparação ainda maior. É isso que estamos tentando fazer hoje, renovar essa disposição, perseverança, porque estamos em um momento bastante difícil da humanidade.”

Segundo ela, problemas de sofrimento emocional, ações suicidas, automutilações e dificuldade de socialização aparecem na realidade escolar. “São consequência de um momento de dificuldade que a gente passa em todos os sentidos no Brasil. Político, econômico, social, e todas as questões nos deixam angustiados. Adolescentes e crianças sentem como nós, adultos. É equivocado achar que são diferentes. Eles podem não saber por que, mas o sofrimento existe e é disparado por outros conteúdos que são da natureza da juventude mesmo, que só eles conhecem e podem ter essa eficácia para atuar”, completa Luciene. 

De fato, os pares se entendem. A aluna do 8ºB do Colégio Xingu, Mayara Monteiro Pereira de Araújo, que integra a equipe de ajuda e esteve no evento, afirmou que o trabalho na rotina escolar tem ajudado bastante nas relações. Relatou o caso de um colega de classe que tinha dificuldade de fazer amizades e que, após atuação da equipe em parceria com os professores, mudou. Ela disse também ter sido impactada pelo trabalho. “Na pandemia fiquei extremamente tímida. Já era, mas piorei. E não conseguia identificar os sentimentos que tinha dentro de mim. Era como um ‘caos’. Depois que tive ensinamentos da equipe, passei a me transformar para conseguir transformar os outros de fora também.”


PRESENÇA ESPECIAL

A aluna do 8ªA, Julia Santos Gonçalves, não é da equipe de ajuda, mas foi convidada de honra do Colégio Xingu. É que neste ano ela passou por uma situação de racismo e, por conta da ajuda dos pares, conseguiu superar o ocorrido e até virou uma bonequinha, que passa de classe em classe com os ensinamentos de práticas antirracistas. “Estava na sala de aula quando aconteceu o ato racista. O menino me chamou e fez o gesto de macaco, imitou a voz. Na hora fiquei muito chateada, mas minha intenção não era falar com ninguém, porque prefiro guardar as coisas para mim. Só que a professora que estava comigo e meus amigos me incentivaram a ir falar com a equipe de ajuda, e pedir ajuda. Me senti muito acolhida com isso, porque eles me mostraram que sou especial e não estava errada em nenhum momento. Disseram que estavam ali comigo em qualquer situação e eu fiquei muito feliz.”

Essa e outras ações realizadas pela escola no contexto de combate ao racismo foram apresentadas no encontro da Unicamp, por um jornal produzido pelos alunos e liderado pela professora de convivência ética, Renata Adduci. “Pensamos em uma forma de mostrar essas práticas para as outras escolas de maneira lúdica, de fácil entendimento e que envolvesse os espectadores que estivessem ali. A ideia do jornal contemplou tudo isso. Mostramos um pouco do que a equipe fez em 2022 e foi muito bacana produzir com as crianças, que fizeram bons materiais, foram atrás das pessoas a serem entrevistadas, colocaram a cara ali para contar sobre esse trabalho e se sentiram bastante orgulhosos do trabalho final. Eu, particularmente, fiquei muito feliz com o que a gente apresentou, porque foi uma marca diferenciada que mostramos com dinamismo e pontuou as nossas ações.”

Confira o vídeo do jornal clicando aqui

Para ela, promover essa troca entre as equipes fortalece ainda mais o engajamento dos alunos participantes, porque mostra que eles fazem parte de um movimento maior e que tem crescido a cada ano, visto o sucesso do evento. E ensina, na prática, que juntos somos mais fortes. 

Veja também: Repórter XinguCast no V Encontro Nacional das Equipes de Ajuda - Ouça em: Spotify | Anchor