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A importância da ajuda dos pais para a identificação dos sentimentos das crianças em tempos de afastamento social

Texto: Miriam Gimenes

Vivemos hoje uma explosão de sentimentos. A obrigatoriedade do isolamento social em razão da pandemia pelo novo coronavírus faz com que não só os adultos, como também as crianças, experimentem diversas sensações durante o dia, algumas não muito agradáveis. Mas, diferente dos pequenos, para nós é mais fácil identificá-las. É por isso que educadores pedem que os pais fiquem atentos e os ajudem a nomear o que estão sentindo para que assim, mais facilmente, possam ter o controle.

O assunto foi discutido amplamente em live realizada pelo Colégio Xingu entre a diretora Viviane Passarini, a professora de Convivência Ética Elisa Taboada e Fernanda Issa, especialista em relações interpessoais na escola e construção da autonomia moral, integrante do grupo GEPEM (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral da Unesp/Unicamp). (Assista a live gravada clicando aqui)

Fernanda, que faz o treinamento para convivência ética no colégio, diz que é extremamente importante falar sobre o reconhecimento dos sentimentos com as crianças para cuidar da saúde mental delas. “A gente sempre diz que não há sentimentos ruins, proibidos, errados. Sempre precisamos validar o sentimento das crianças e nunca achar que parece insignificante. Neste momento em que vivemos principalmente”, ressalta. Como exemplo, ela diz que, se uma criança não é atendida, joga um objeto no chão e chora em seguida, tem de ser aberto o diálogo. “Principalmente se ela é muito pequena. Este é o jeito que encontra para se manifestar. Pode-se dizer: ‘eu estou vendo que você ficou bravo, mas não se deve jogar as coisas no chão.’ Assim, cria-se uma conexão com aquele sentimento e quando sentir novamente, a criança saberá nomear.”

O que os pais e educadores têm de ter em mente, acrescenta, é que a nossa linguagem não é inócua e afeta a vida dos pequenos para o bem ou para o mal. Por isso, nunca se deve valorizar qualquer tipo de manifestação da criança chamando ele de chorão, ou qualquer outro adjetivo que não será agregado. É preciso entender. “Quando a gente favorece com que a criança reflita sobre a situação, é mais fácil que ela colabore”, diz Fernanda.

Um dos sentimentos mais vivenciado no momento é a ansiedade. De não saber quando tudo isso acabará, de preocupação com a doença, o que gera uma agitação e vontade insaciável de comer. “Uma das alternativas para os pequenos, quando estão muito ansiosos, é chamar para brincar de massinha, por exemplo. Coloque uma música de fundo, converse. Também sugiro a leitura ou qualquer outra coisa que a criança goste de fazer”, aconselha a professora de Convivência Ética, Elisa Taboada. O momento que vivemos é muito estressante, por isso essa preocupação com o que está por vir está tão latente.

E crianças, ressalta, vivem de rotina. “Todos nós perdemos essa rotina, mas precisamos formar uma nova. A criança não tem noção do tempo, então sem uma programação parece que ela vai viver algo que não tem fim. Com horários ela fica mais segura, sabe onde vai pisar”, explica Elisa. Isso não quer dizer que tem de ser seguida à risca, de modo ditatorial. “A flexibilidade é necessária. Não precisamos levar a ferro e fogo, principalmente neste momento em que nossas emoções estão abaladas”, acrescenta Fernanda. Um quadro com horários e atividades, sugerem, ajuda e muito nesta situação.

Uma vez tendo aprendido sobre os sentimentos, as crianças seguem para a empatia, tão exaltada neste momento em que nos isolamos também para proteger o outro. E ela engloba três componentes: o afetivo, cognitivo e reguladores de emoções. “Tem uma coisa que é importante a família saber: para as crianças pequenas, a empatia é uma habilidade a ser desenvolvida. Quanto mais estão em um ambiente em que os sentimentos são valorizados, identificados, mais vai conseguindo desenvolver a habilidade empática.” E isso melhora com a idade. “Depois dos 7 anos as crianças já conseguem perceber a perspectiva do outro de maneira autônoma, percebem que as outras pessoas podem pensar diferente deles, mas isso é um processo”, finaliza Fernanda. Ajudá-los a identificar e domar essas emoções são atitudes essenciais neste momento.