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100 anos de Paulo Freire: Educador ganha homenagem em nova fachada do Colégio Xingu

Texto: Miriam Gimenes

Um dos maiores pedagogos do mundo e patrono da Educação no Brasil, o filósofo e professor Paulo Freire, se vivo, completaria 100 anos. Ele partiu em 1997, mas deixou um legado que extrapolou os livros e tomou grande parte das salas de aula no País, inclusive as do Colégio Xingu, afinal, ele é seu maior inspirador na educação e se pautou na pedagogia da autonomia, que muito valoriza e complementa a proposta construtivista da escola e, por isso, aproveitou a data para homenageá-lo. Aliando a nova identidade visual da escola e os traços do artista plástico Aleksandro Reis, a fachada, totalmente repaginada e colorida, ganhou a imagem - e a alma - do educador.

A diretora do colégio, Viviane Passarini, explica que esta mudança no visual não só da escola como também nos meios de comunicação está sendo pensada há seis meses. “É um trabalho bastante sério e dedicado do Estúdio La.Bomba na construção desta nova identidade visual do colégio. E o que eu queria dizer é que não é só uma mudança no aspecto visual. O estúdio foi levantando junto com a gestão e com os colaboradores os nossos princípios, qual a essência do colégio e a nossa proposta pedagógica construtivista e democrática, para conseguir desenhar a nova identidade”, explica.

Uma vez colorida a fachada, é possível mostrar este propósito, acrescenta, que é o de ser referência na transformação da educação de forma inclusiva e coerente. “São traços e características da nossa personalidade, como a questão coletiva, humana, inclusiva, empática, democrática, transformadora, disruptiva e também questionadora”, completa Viviane. O novo logo tem traços feitos à mão, cores - que mostram a diversidade - simplicidade e um toque mais divertido. “E nada melhor do que aproveitar a oportunidade deste centenário do grande educador Paulo Freire para fazer essa homenagem no nosso colégio.”

O autor dos traços e das cores da fachada, o artista Aleksandro Reis, é parceiro de longa data do colégio. “Conheço a Viviane já faz mais de 15 anos e uma coisa que sempre me admirou é seu empenho no ensino, como ela sempre levou a sério tudo isso. A escola nunca foi somente uma sobrevivência nesse mundo, mas todos nós somos convidados a sobreviver, cada um à sua maneira. A escola sempre teve algo a mais, uma preocupação com o aluno, de passar valores, cultura, sempre extrapolando os limites de uma educação formal, indo mais além com o seu senso de humanidade e visão ampla”, analisa o artista.

Segundo Reis, a ideia de fazer a pintura do Paulo Freire foi conversada anos atrás. “O tempo foi passando, não falamos mais sobre o assunto. Aliás, pouco nos falamos devido à rotina. Nesse ano, decidi fazer uma visita a ela, por causa dessa pandemia a gente sente a necessidade de rever certos amigos, saber se estão bem, e nesse encontro comentei sobre nosso antigo projeto do Paulo Freire. Então, ela disse que o pessoal do estúdio estava cuidando da nova identidade visual da escola. A partir daí, alinhamos a conversa, conseguimos acrescentá-lo no projeto da agência e deu tudo certo, acabei por executar a fachada.”

Sobre pintar Paulo Freire, disse ter tido um prazer ‘anti-ideológico’ nisso. “Ele é uma pessoa de tamanha importância na nossa história e que, de repente, é atacada por todos os lados por pessoas que nunca nem souberam de sua existência. E se sabem, decidiram atacá-lo somente por ideologia barata, sem conhecer a fundo sua importância. Então foi um prazer sim pintar sua imagem, na hora certa, no momento oportuno.”

Quem foi Paulo Freire?

Autor de obras importantes como Educação como Prática da Liberdade (1967) e Pedagogia do Oprimido (1968), Educação e Mudança (1979), A Educação na Cidade (1991), Pedagogia da Esperança (1992) e Política e Educação (1993), o pernambucano Paulo Freire (1921-1997) criou, ainda na década de 60, método de alfabetização inovador, que tinha como foco principal atender aos excluídos, promover a capacidade crítica e a necessidade de exercitar a cidadania. Tanto que ele entrou no Plano Nacional de Alfabetização, avalizado em decreto pelo então presidente João Goulart em janeiro de 1964.

Houve, no entanto, em seguida, o golpe militar. Por conta disso, o educador passou a ser mal-visto pelos militares, que achavam o método político demais e ele passou a ser considerado subversivo. Teve de se exilar, ficou 16 anos fora do País e seu método ganhou o mundo. Após lecionar na Suíça e Estados Unidos, voltou para o Brasil em 1989 e foi nomeado secretário de Educação de São Paulo.

Passados mais de 60 anos desse trabalho, que lhe rendeu diversos prêmios - entre eles o da Unesco, Educação para a Paz (1986) e 40 títulos de Doutor Honoris Causa - o seu nome voltou à pauta. Paulo Freire virou, para pessoas alinhadas à ideologia de direita, sinônimo de ‘doutrinação ideológica de esquerda’ e seu legado passou a ser difundido de forma distorcida por fake news. A ideia foi desconstruir as propostas defendidas por ele como, por exemplo, os benefícios de uma escola ser popular e diversa.

Mas, enquanto uma linha o chama de doutrinador, dogmático e autoritário, a sua obra, à luz neste centenário de seu nascimento, mostra exatamente o contrário: o educador era democrático, plural e inclusivo. “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”, dizia. Viva Paulo Freire!

Confira também o vídeo: 'Por que mudamos a nossa marca?'